Era uma quinta feira. Eu tava de bobeira, matando aula no cursinho,
quando meu celular tocou.
-Alô
-Marvin?
- Eu mesmo...
- Aqui é a M.
M era uma amiga
minha de infância que de vez em nunca me ligava e me chamava pra sair, como
amigos. Era, e as vezes ainda é, uma das minhas 8475611 paixões platônicas .
- E aí? Que que tá pegando?
Eu sempre falava
alguma coisa idiota com ela. Acho que ficava um tanto nervoso.
- Então, hoje a noite, vem aqui em casa...
- Ok...
- Traz seu narguilé que o chá eu tenho.
Eu olhei pro céu
e falei “obrigado deus que eu não sei se existe”. Era hoje que eu ia pegar
minha paixonite de infância e coisa e tal. Nós dois sozinhos na casa dela
conversa vai conversa vem, fuque fuque nhéque nhéque. Algumas horas de
diversão. SWEET LOVE ALL NIGHT LONG STYLE.
Não preciso nem
falar que fiquei as ultimas duas aulas pensando em como eu ia me dar beem essa
noite. Quem tinha tempo pra matemática? Quando a futura mãe do seus filhos, que
podem vir a ser concebidos ainda hoje, te espera de braços abertos (e pernas
também) para o amor.
Terminada a aula
eu fui até a minha casa peguei o narguilé, troquei de camisa e peguei aquela
pacote velho, meio amassado, que tinha comprado quase um ano antes. Sim, um
pacote de camisinhas, sou um rapaz prevenido. Não quero ter herpes, ou coisa
pior. Tinha comprado aquilo por que esperava me dar bem numa situação semelhante.
Se ao menos eu me lembrasse de como aquilo tinha terminado (acabei a noite na
mão, literalmente) talvez tivesse ficado em casa numa boa.
Fui até a casa
dela e toquei a campainha. A mãe dela atendeu.
- Marvin! Quanto tempo menino, você cresceu... entra entra a M tá lá
em cima no quarto dela.
Eu achei que ia
ficar só com a M. acontece que a mãe e o irmão dela também estavam na casa
- E ai Marvin, senta ai que eu já to preparando.
Ela tava sentada
em cima da cama, preparando.
- Outro dia eu fui com esse cara, meio hippie, num lugar aqui em
campinas que tem tipo, grande ocorrência de OVNIS é bem legal
- É mesmo.
- Depois ele abriu um pacore e tirou um camarão de lá de dentro... a
gente dichavou e fumou lá mesmo, foi tipo, nossa, transcendental.
- Imagino. Não sabia que sua mãe ia estar aqui hoje, é de boa fumar
aqui?
- É só soltar na janela.
Ela ficou me
falando de umas coisas que tava “estudando” sobre alquimia, quatro elementos,
humores aristotélicos e mais um monte dessas babaquices. Depois ela trancou a
porta e abriu a janela. Terminou de lamber a seda e me passou pra que eu
admirasse sua obra de arte. Tem gente que pinta quadros e tem gente que finje
que escreve poesia (eu). M enrolava.
Olhei pra aquele
beck meio babado pensando que aquilo era o mais próximo de um beijo que ei ia
ter naquela noite.
Ainda sim foi uma
boa noite, engraçada por conta dos alteradores de consciência e de um modo
geral cheia de papos acalorados sobre
qualquer coisa. Por volta das onze da noite eu achei que deveria ir
embora. Falei que não ia chamar meu pai pra me buscar, uma que morava a menos
de 1 quilometro da casa dela, duas que eu sempre gostei de andar.
Era uma noite
clara, em parte por causa dos postes de luz amarela em parte por causa da lua
gigante e também amarela como um queijão gigante pendurado no céu. Um gol
daqueles velhos quadrados com insulfilme preto (o popular chaveado) passou bem
devagar por mim. Meu sentido de aranha me disse que era uma boa idéia sair
correndo por ali, mas correr de um carro não é muito inteligente.
O carro passou e
foi embora, dobrando a esquina. Relaxei.
Quando dobrei a
mesma esquina, quase chegando em casa, o gol estava parado junto do meio fio. Dois
homens do lado de fora. “Morri” pensei. Agarrei a caixinha do narguilé com mais
força e continuei andando, não tinha por onde mais ir. Passei sem olhar para os
caras como se isso fosse me tornar invisível.
-Ei mano
Disse um deles. Me
virei devagar esperando ver um canhão na mão de um deles.
- Ce derrubou isso.
O cara segurava
um papelzinho. Tinha o nome de algumas bandas que M tinha recomendado, nada
demais
- Brigado aí
Me virei me
sentindo muito mal, como podia ter pensado besteira daquele cara? Um moço
gentil que me devolveu o papel e, afinal, esse negocio de gentileza é muito
legal...
- Ei mano
- Que?
Agora sim, ele
tinha um canhão na mão.
- O que tem na caixa?
- É meu narguilé velho...
- Passa
Passei. O que eu
podia fazer?
- Agora vaza.
Vazei... E cheguei em casa
uns 5 minutos depois. O susto tinha me deixado completamente sóbrio. Que diabo
de noite furada...
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