terça-feira, janeiro 24, 2012

A


Era uma quinta feira.  Eu tava de bobeira, matando aula no cursinho, quando meu celular tocou.
-Alô
-Marvin?
- Eu mesmo...
- Aqui é a M.
                M era uma amiga minha de infância que de vez em nunca me ligava e me chamava pra sair, como amigos. Era, e as vezes ainda é, uma das minhas 8475611 paixões platônicas .
- E aí? Que que tá pegando?
                Eu sempre falava alguma coisa idiota com ela. Acho que ficava um tanto nervoso.
- Então, hoje a noite, vem aqui em casa...
- Ok...
- Traz seu narguilé que o chá eu tenho.

                Eu olhei pro céu e falei “obrigado deus que eu não sei se existe”. Era hoje que eu ia pegar minha paixonite de infância e coisa e tal. Nós dois sozinhos na casa dela conversa vai conversa vem, fuque fuque nhéque nhéque. Algumas horas de diversão. SWEET LOVE ALL NIGHT LONG STYLE.
                Não preciso nem falar que fiquei as ultimas duas aulas pensando em como eu ia me dar beem essa noite. Quem tinha tempo pra matemática? Quando a futura mãe do seus filhos, que podem vir a ser concebidos ainda hoje, te espera de braços abertos (e pernas também) para o amor.
                Terminada a aula eu fui até a minha casa peguei o narguilé, troquei de camisa e peguei aquela pacote velho, meio amassado, que tinha comprado quase um ano antes. Sim, um pacote de camisinhas, sou um rapaz prevenido. Não quero ter herpes, ou coisa pior. Tinha comprado aquilo por que esperava me dar bem numa situação semelhante. Se ao menos eu me lembrasse de como aquilo tinha terminado (acabei a noite na mão, literalmente) talvez tivesse ficado em casa numa boa.
                Fui até a casa dela e toquei a campainha. A mãe dela atendeu.
- Marvin! Quanto tempo menino, você cresceu... entra entra a M tá lá em cima no quarto dela.
                Eu achei que ia ficar só com a M. acontece que a mãe e o irmão dela também estavam na casa
- E ai Marvin, senta ai que eu já to preparando.
                Ela tava sentada em cima da cama, preparando.
- Outro dia eu fui com esse cara, meio hippie, num lugar aqui em campinas que tem tipo, grande ocorrência de OVNIS é bem legal
- É mesmo.
- Depois ele abriu um pacore e tirou um camarão de lá de dentro... a gente dichavou e fumou lá mesmo, foi tipo, nossa, transcendental.
- Imagino. Não sabia que sua mãe ia estar aqui hoje, é de boa fumar aqui?
- É só soltar na janela.
                Ela ficou me falando de umas coisas que tava “estudando” sobre alquimia, quatro elementos, humores aristotélicos e mais um monte dessas babaquices. Depois ela trancou a porta e abriu a janela. Terminou de lamber a seda e me passou pra que eu admirasse sua obra de arte. Tem gente que pinta quadros e tem gente que finje que escreve poesia (eu). M enrolava.
                Olhei pra aquele beck meio babado pensando que aquilo era o mais próximo de um beijo que ei ia ter naquela noite.
                Ainda sim foi uma boa noite, engraçada por conta dos alteradores de consciência e de um modo geral cheia de papos acalorados sobre  qualquer coisa. Por volta das onze da noite eu achei que deveria ir embora. Falei que não ia chamar meu pai pra me buscar, uma que morava a menos de 1 quilometro da casa dela, duas que eu sempre gostei de andar.
                Era uma noite clara, em parte por causa dos postes de luz amarela em parte por causa da lua gigante e também amarela como um queijão gigante pendurado no céu. Um gol daqueles velhos quadrados com insulfilme preto (o popular chaveado) passou bem devagar por mim. Meu sentido de aranha me disse que era uma boa idéia sair correndo por ali, mas correr de um carro não é muito inteligente.
                O carro passou e foi embora, dobrando a esquina. Relaxei.
                Quando dobrei a mesma esquina, quase chegando em casa, o gol estava parado junto do meio fio. Dois homens do lado de fora. “Morri” pensei. Agarrei a caixinha do narguilé com mais força e continuei andando, não tinha por onde mais ir. Passei sem olhar para os caras como se isso fosse me tornar invisível.
-Ei mano
                Disse um deles. Me virei devagar esperando ver um canhão na mão de um deles.
- Ce derrubou isso.
                O cara segurava um papelzinho. Tinha o nome de algumas bandas que M tinha recomendado, nada demais
- Brigado aí
                Me virei me sentindo muito mal, como podia ter pensado besteira daquele cara? Um moço gentil que me devolveu o papel e, afinal, esse negocio de gentileza é muito legal...
- Ei mano
- Que?
                Agora sim, ele tinha um canhão na mão.
- O que tem na caixa?
- É meu narguilé velho...
- Passa
                Passei. O que eu podia fazer?
- Agora vaza.
                Vazei... E cheguei em casa uns 5 minutos depois. O susto tinha me deixado completamente sóbrio. Que diabo de noite furada...

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