Marvin encontro Luiz em um bar
qualquer. Era sábado à noite em campinas. Na verdade era quase domingo, então o
bar estava ligeiramente lotado. Uma porção de perdidos fuma cigarros na parte
externa. Acendiam um atrás do outro, alguns nem tragavam, outros seguravam no
pulmão por tempo demais até começarem a tossir.
Tem uma espécie de segregação com as
pessoas que escolhem ir fodendo seus pulmõezinhos aos poucos. Como se esses
fossem 'dalits' ou coisa do tipo. Tem que ficar lá fora na noite fria, fumando o
mais rápido possível pra tentar voltar pra mesa antes da história interessante
que estão contando acabar..
No meio de todos aqueles fodedores,
Marvin e Luiz estavam sentados. Cada uma com uma cerveja na mão e um monte de
merda presa dentro do peito.
-Pois
é Marvin a vida não anda fácil pra quem está vivo.
-a
vida não tá fácil nem pra quem tá morto.
-oi?
-você
embaixo da terra sendo comido por um monte de vermes. Imagina? Vermes no se u cérebro, subindo pelos seus intestinos. Comendo aquilo que é só seu. Sua merda
coisa e tal.
-vejo
que você tá tão na bad quanto eu.
-sempre
-isso
é bom. Ter com quem compartilhar.
-acho
que sim
-cara
eu mandei um poema meu pra porra duma revista.
Luiz se dizia escritor. Escrevia
péssimos poemas e contos horríveis. Mas fazia questão que todos lessem seu
blog. “comenta lá nesse poema que eu escrevi sobre os fiapos do meu umbigo”
-e
ae?
-bom,
nem foi publicado.
-que
merda
-é
Cada um tomou um gole da cerveja.
-outro
dia eu tive um sonho.
-era
um bom poema.
-um
sonho bizarríssimo...
-acho
que todo mundo teria gostado se tivesse sido publicado.
-eu
sonhei com essa amiga nossa do tempo de escola. Lembra dela? A Júlia?
-uma
vez eu escrevi um poema sobre a Júlia
-gostosissíma.
-mas
acho que nem cheguei a mandar esse pra ninguém.
-belos
peitos.
-mas
aquele que eu mandei era realmente bom.
-então.
Meu sonho com ela...
-as
vezes eu tento imaginar se os grandes também eram ignorados em seu tempo.
-bizarríssimo!
-os
grandes?
-o
sonho.
-ah!.
Marvin tomou um gole da cerveja do Luiz já
que a dele estava seca.
-foi
assim, no sonho, era de manha cedo. E a gente tava na escola. E ai a Júlia
chegou. Comendo um croissant enorme. Do tamanho de uma baguete eu acho. Do
tamanho da porra de um braço. Um braço de criança de presunto e queijo. Um
verdadeiro estouro. E ela foi comendo aquela coisa enorme, colocando quase
metade do croissant na boca só pra depois tirar e morder a pontinha. Eu não sei
como tudo aquilo cabia na boca dela, mas eu estava tentado a descobrir. Então
eu falei pra ele “uau Júlia, eu não sei como você engole tudo isso mas eu realmente
queria que você me mostrasse o que mais você sabe fazer!” e ela respondeu que
podia me mostrar mais tarde. Cara. Foi daora. Aí meu outro amigo apareceu do
nada e gritou “cara ela tá tããããão na sua”. De repente tudo ficou escuro e acho
que já era de noite por que eu já podia ver a lua no ceu. Toda branca, toda
redonda. E a Júlia apareceu vestida de militar russa e me mandou fazer milhões
de flexões enquanto gritava “ta vendo o que mais eu sei fazer? Eu sei mandar
uns viados à merda. Mais 50 flexões seu bunda mole do caralho!”. Achei que ia
ser uma porra dum sonho sexual mas nem foi.
-diabos.
-o
que?
-que
merda que não publicaram meu poema.
-o
que isso quer dizer afinal?
-que
não estão prontos para minha genialidade.
-será
que isso é uma vontade inconsciente de ser dominado? De levar no rabo?
-acho
que estou com o poema aqui
-será
que estou virando gay? Me ajude Luiz!
-aqui-
meteu a mão no bolso- vou ler um negócio pra você que vai fazer você se sentir
melhor.
Se levantou e ficou uns dois passos distante, pra que mais
gente pudesse ser abençoado com seus lindos versinhos. Pôs uma mão no peito e
sai declamando:
--------------------------------
Você
ouve os outros gritando
Mas
ninguém nunca te ouve conversando!
Tenho
um headbanger dentro do meu peito!
Que
chuta e pula pra vadia nenhuma
Botar
defeito!
Me
conta como é ser um clandestino
Que
vaga pelos corações assim sem destino?
Me
conta como é correr de medo
Toda
vez que
Você
ouve os outros gritando...
Mas
ninguém nunca te ouve conversando!
Outro
dia fui até teu apartamento
Ouvi
alguém, uma puta,
Gritando
lá dentro
Fui
embora sem nem bater na porta!
Fui-me
embora e na padaria
Saqueei
uma torta
--------------------------------
Ninguém deu a mínima.
-o
que achou?
-acho
que estou perdendo o juízo.
-todos
estão. Esse poema é ouro puro! Tem que ser um desajuizado pra ignorar essa
porra!
Luiz levantou e foi andando em
direção à porta. Marvin acendeu um cigarro com uma certa indecisão: não sabia
se era só um cigarro ou se era mais um símbolo fálico que punha na boca.
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