quarta-feira, novembro 07, 2012

Sonhos e Poemas



            Marvin encontro Luiz em um bar qualquer. Era sábado à noite em campinas. Na verdade era quase domingo, então o bar estava ligeiramente lotado. Uma porção de perdidos fuma cigarros na parte externa. Acendiam um atrás do outro, alguns nem tragavam, outros seguravam no pulmão por tempo demais até começarem a tossir.
            Tem uma espécie de segregação com as pessoas que escolhem ir fodendo seus pulmõezinhos aos poucos. Como se esses fossem 'dalits' ou coisa do tipo. Tem que ficar lá fora na noite fria, fumando o mais rápido possível pra tentar voltar pra mesa antes da história interessante que estão contando acabar..
            No meio de todos aqueles fodedores, Marvin e Luiz estavam sentados. Cada uma com uma cerveja na mão e um monte de merda presa dentro do peito.

-Pois é Marvin a vida não anda fácil pra quem está vivo.
-a vida não tá fácil nem pra quem tá morto.
-oi?
-você embaixo da terra sendo comido por um monte de vermes. Imagina? Vermes no se u cérebro, subindo pelos seus intestinos. Comendo aquilo que é só seu. Sua merda coisa e tal.
-vejo que você tá tão na bad quanto eu.
-sempre
-isso é bom. Ter com quem compartilhar.
-acho que sim
-cara eu mandei um poema meu pra porra duma revista.

            Luiz se dizia escritor. Escrevia péssimos poemas e contos horríveis. Mas fazia questão que todos lessem seu blog. “comenta lá nesse poema que eu escrevi sobre os fiapos do meu umbigo”

-e ae?
-bom, nem foi publicado.
-que merda

            Cada um tomou um gole da cerveja.

-outro dia eu tive um sonho.
-era um bom poema.
-um sonho bizarríssimo...
-acho que todo mundo teria gostado se tivesse sido publicado.
-eu sonhei com essa amiga nossa do tempo de escola. Lembra dela? A Júlia?
-uma vez eu escrevi um poema sobre a Júlia
-gostosissíma.
-mas acho que nem cheguei a mandar esse pra ninguém.
-belos peitos.
-mas aquele que eu mandei era realmente bom.
-então. Meu sonho com ela...
-as vezes eu tento imaginar se os grandes também eram ignorados em seu tempo.
-bizarríssimo!
-os grandes?
-o sonho.
-ah!.

            Marvin tomou um gole da cerveja do Luiz já que a dele estava seca.

-foi assim, no sonho, era de manha cedo. E a gente tava na escola. E ai a Júlia chegou. Comendo um croissant enorme. Do tamanho de uma baguete eu acho. Do tamanho da porra de um braço. Um braço de criança de presunto e queijo. Um verdadeiro estouro. E ela foi comendo aquela coisa enorme, colocando quase metade do croissant na boca só pra depois tirar e morder a pontinha. Eu não sei como tudo aquilo cabia na boca dela, mas eu estava tentado a descobrir. Então eu falei pra ele “uau Júlia, eu não sei como você engole tudo isso mas eu realmente queria que você me mostrasse o que mais você sabe fazer!” e ela respondeu que podia me mostrar mais tarde. Cara. Foi daora. Aí meu outro amigo apareceu do nada e gritou “cara ela tá tããããão na sua”. De repente tudo ficou escuro e acho que já era de noite por que eu já podia ver a lua no ceu. Toda branca, toda redonda. E a Júlia apareceu vestida de militar russa e me mandou fazer milhões de flexões enquanto gritava “ta vendo o que mais eu sei fazer? Eu sei mandar uns viados à merda. Mais 50 flexões seu bunda mole do caralho!”. Achei que ia ser uma porra dum sonho sexual mas nem foi.
-diabos.
-o que?
-que merda que não publicaram meu poema.
-o que isso quer dizer afinal?
-que não estão prontos para minha genialidade.
-será que isso é uma vontade inconsciente de ser dominado? De levar no rabo?
-acho que estou com o poema aqui
-será que estou virando gay? Me ajude Luiz!
-aqui- meteu a mão no bolso- vou ler um negócio pra você que vai fazer você se sentir melhor.

            Se levantou e  ficou uns dois passos distante, pra que mais gente pudesse ser abençoado com seus lindos versinhos. Pôs uma mão no peito e sai declamando:

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Você ouve os outros gritando
Mas ninguém nunca te ouve conversando!
Tenho um headbanger  dentro do meu peito!
Que chuta e pula pra vadia nenhuma
Botar defeito!
Me conta como é ser um clandestino
Que vaga pelos corações assim sem destino?

Me conta como é correr de medo
Toda vez que
Você ouve os outros gritando...
Mas ninguém nunca te ouve conversando!

Outro dia fui até teu apartamento
Ouvi alguém, uma puta,
Gritando lá dentro

Fui embora sem nem bater na porta!
Fui-me embora e na padaria
Saqueei uma torta
--------------------------------
            Ninguém deu a  mínima.

-o que achou?
-acho que estou perdendo o juízo.
-todos estão. Esse poema é ouro puro! Tem que ser um desajuizado pra ignorar essa porra!
            Luiz levantou e foi andando em direção à porta. Marvin acendeu um cigarro com uma certa indecisão: não sabia se era só um cigarro ou se era mais um símbolo fálico que punha na boca.

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