E
foi num devaneio terrivelmente longo que isso me ocorreu. Estava eu lavando
louça pensando o que fazer com a unha do dedão do meu pé que vinha ficando
amarela. Cada vez mais amarela.
Me
perguntei em voz alta: será que essa unha vai cair?
- O que está dizendo Meretrício? Era
assim que elas me chamavam lá naquele inferninho perdido no meio de Alagoas.
- Ora ora não é nada que estava
dizendo não! Se me pego pensando em voz alta logo me reprimo.
-Nunca, meretrício! Nunca se
reprima, não aqui nessa casa, pelo menos.
-Eu sei minha querida, estava
louco. Foi apenas um distúrbio. Enfim, o bom filho a casa torna e estou de
volta à essa casa de luz vermelha depois de quase um ano de reclusão! Venha Juliana minha morena sedutora que temos muito
tempo a recuperar! Para a alcova!
-Pera lá Meretrício! Acha que vai
se livrar de mim assim tão fácil?
-Ó Ana minha loira! Se seus
cabelos brilhassem apenas um pouquinho mais que isso o sol teria inveja e a lua
ficaria envergonhada perante tua beleza! E olha que aqui nesta casa de luz
vermelha tudo é sempre penumbra, oculto pela sombra... Imagino como você
ficaria linda ao por do sol numa praia perdida, eu você e a nudez!
Passei
a mão pela cintura de Ana sem soltar Juliana e comecei a me encaminhar para o
quarto quando senti que era observado.
-Júlia meu amor! Quanto tempo sem
vê-la, e esses meses não conseguiram sequer diminuir vossa beleza! Pelo contrário,
está mais bela que antes! Pergunto-me se um dia deixara de ficar mais bela a
cada dia que passa! Seu cabelo vermelho como o fogo do amor que arde no meu
coração por todas as coisas belas do mundo é mais belo que tudo que existe
acima do nível do mar! Poderia dizer que é mais bela que todas mas isso seria
uma injustiça para com as estrelas que tentam imita-la em sua perfeição! Sinto o
tempo que passei longe de teu sorriso como sentiria o tempo se ficasse longe do
sol ou da agua num dia de verão...
-Por que ficou fora tanto tempo
meretrício? Achamos que tinham se
esquecido da gente
-Nunca minhas queridas! Poderia esquecer
o meu nome, do rosto de mamãe e do caminho de casa mas nunca esqueceria minhas
3 deusas.
-Então por que ficou quase um ano
longe de nossa cama?
-Ora eu tinha coisas demais para
fazer, e quando as terminava estava tão esgotado que nem um bom tratamento poderia
dar para vocês! Bem sabem que fiquei casado...
-O QUE?
-Pois é contraí matrimonio nesse
ano que passou e quase não consegui me livrar dessa armadilha que é a vida
conjugal. Por sorte me libertei e cá estou pronto para gozar a vida em grande
estilo. Por acaso não haveriam de ter um charuto ai? Não? Bem vamos para alcova
então.
-Espere meretrício... com quem
passou esse tempo casado? Precisamos saber.
-Ora isso é pouco importante.
Comecei
a deslizar a alça da blusinha de Ana e a levantar a saia de Juliana, mas elas
me impediram de continuar.
-Com quem?
-Ora bem sabem que eu sou um
poeta, um espírito dedicado inteiramente a poesia, à bebedeira e a incentivar a
anarquia e promiscuidade entre meus convivas!
Como
elas esperavam mais alguma coisa eu simplesmente remendei
-Casei-me com minha poesia
enfim...
-O que?
-Pois é passei um ano reunindo
escritos... Para enfim vir aqui me deleitar de vossa companhia! Tão doces
senhoritas...
Não pareciam nada convencidas mas, mesmo assim, me entregaram uma garrafa de jurupinga que eu tomei contrariado. Depois disso é
tudo um borrão e uma mescla de pernas e pelos pubianos ruivos, negros e loiros.
Acordei
deitado em minha cama com um pano de prato enrolado no pescoço e uma travessa
suja de molho branco ao pé da cama. Minha mãe não estava muito feliz com a
situação.
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um conto que ofende a família brasileira.
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